quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

São Paulo às nove e meia

Nove e meia da manhã
bem na encruzilhada
debaixo dum viaduto no Bixiga
malas, sacos, colchonete, papelão!
A casa de um homem
estendida no chão.
Foi depois do pão na chapa nosso de cada dia
molhado no café com leite
serviu-nos a política de limpeza urbana de São Paulo.
Populares passavam: uns observavam, outros ignoravam
Fizeram em nome do cidadão
o papelão
que usava para separá-lo do chão
teve de carregar mais colchonete, sacos, malas.
Agentes policiais, agentes da companhia de águas, agentes da limpeza urbana:
a ordem em ação
Eles cumpririam sua missão.
Pão e chão se defendem na mão
Como qualquer brasileiro
De manhã um café e um não
Como aquele brasileiro que trabalha e estuda ou passeia e dorme no chão
Como aqueles brasileiros todos: o motorista, o da mangueira, o de macacão azul e colete laranja, os de uniforme cinza, o morador de rua e outros também…
Não havia oficial de Justiça
mas arma na cinta, teve.
Eles cumpriram sua missão
o pobre homem atravessou a rua
na contramão
deu meia volta volver
viu, voltou e fixou-se quase no mesmo local.
Não chovia, mas os agentes cumpriram sua missão…
Em tempos de enchentes as águas nos tomam as casas


por Daniel Iliescu e Alexandre Cherno

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